Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa remendada, acompanhado de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos.
Os três atravessam o salão, cuidadosa mas resolutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas.
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos.
— Duzentos e vinte.
O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
— Que tal pão com molho? – sugere o rapaz.
— Como?
— Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso.
O homem olha para os meninos.
— O preço é o mesmo – informa o rapaz.
— Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o primeiro bocado do pão.
O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida.
Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa.
WANDER PIROLI
Disponível em http://www.cultura.mg.gov.br/files/2011-novembro-especial.pdf
Nasceu em 1931, em Belo Horizonte, MG. Jornalista e escritor, começou na literatura ao inscrever, em 1951, um conto num concurso da prefeitura. Era O Troco. Ganhou o concurso e não parou mais. Publicou seu primeiro livro de contos, A Mãe e o filho da Mãe, em 1966, pela Imprensa Oficial, um dos marcos de sua carreira. Inciou como ficcionista escrevendo para adultos, no entanto, foi na literatura infanto-juvenil, a partir da publicação de O Menino e o Pinto do Menino (1975), que o seu nome ficaria ainda mais conhecido. A história, uma das mais comoventes do gênero já escritas no País, surgiu em 1972, quando o seu filho Bumba, então no jardim da infância, ganhou um pinto e o levou para casa. Chateado com a inesperada situação, pois viu que o bicho iria morrer. O livro teve até hoje mais de 30 edições. No ano seguinte publicou uma história infantil, Os rios morrem de sede, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de 1977. Estes dois últimos livros forma traduzidos para o búlgaro. Ainda para crianças e adolescentes, publicou Macacos me mordam (1978); Os dois irmãos (em 1980) e Nem pai educa filho (1998). Um fato interessante na sua carreira literária é que embora tenha estreado na literatura com um livro dirigido ao público adulto, em 1966, só voltaria a escrever para gente grande em 1980, quando lançou A Máquina de Fazer Amor. Cinco anos depois, também no mesmo gênero, saiu Minha Bela Putana, pela Nova Fronteira, do Rio, ao qual se seguiu o volume Os Melhores Contos de Wander Piroli, que foi lançado pela Global, em 1996. Apesar de celebrado por seus pares, amigos como João Antônio, Fernando Sabino, Antonio Torres, Ari Quintella e Roberto Drummond, ele amargou um certo ostracismo nas últimas décadas de vida. Faleceu em 06/06/2006.
Disponível em :http://www.tirodeletra.com.br/biografia/WanderPiroli.htm
Nasceu em 1931, em Belo Horizonte, MG. Jornalista e escritor, começou na literatura ao inscrever, em 1951, um conto num concurso da prefeitura. Era O Troco. Ganhou o concurso e não parou mais. Publicou seu primeiro livro de contos, A Mãe e o filho da Mãe, em 1966, pela Imprensa Oficial, um dos marcos de sua carreira. Inciou como ficcionista escrevendo para adultos, no entanto, foi na literatura infanto-juvenil, a partir da publicação de O Menino e o Pinto do Menino (1975), que o seu nome ficaria ainda mais conhecido. A história, uma das mais comoventes do gênero já escritas no País, surgiu em 1972, quando o seu filho Bumba, então no jardim da infância, ganhou um pinto e o levou para casa. Chateado com a inesperada situação, pois viu que o bicho iria morrer. O livro teve até hoje mais de 30 edições. No ano seguinte publicou uma história infantil, Os rios morrem de sede, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de 1977. Estes dois últimos livros forma traduzidos para o búlgaro. Ainda para crianças e adolescentes, publicou Macacos me mordam (1978); Os dois irmãos (em 1980) e Nem pai educa filho (1998). Um fato interessante na sua carreira literária é que embora tenha estreado na literatura com um livro dirigido ao público adulto, em 1966, só voltaria a escrever para gente grande em 1980, quando lançou A Máquina de Fazer Amor. Cinco anos depois, também no mesmo gênero, saiu Minha Bela Putana, pela Nova Fronteira, do Rio, ao qual se seguiu o volume Os Melhores Contos de Wander Piroli, que foi lançado pela Global, em 1996. Apesar de celebrado por seus pares, amigos como João Antônio, Fernando Sabino, Antonio Torres, Ari Quintella e Roberto Drummond, ele amargou um certo ostracismo nas últimas décadas de vida. Faleceu em 06/06/2006.
Disponível em :http://www.tirodeletra.com.br/biografia/WanderPiroli.htm
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