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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Projeto "Manhã Literária"




Turminha,

Amanhã será a apresentação do projeto "Manhã Literária", uma manhã inteira para vivermos momentos de dois autores nacionais de extrema grandeza: Carlos Drummond de Andrade e Lygia Fagundes Telles.  

Neste endereço http://www.teatrodagaragem.com.br/teatrodagaragem/saxofone/autora.htm encontrei uma análise sobre um dos textos que serão representados amanhã: Apenas um saxofone. Leiam! Garanto que os ajudará a enxergar mais de perto as personagens que transitam o texto lido nesse período. 

Um abraço!



Lygia Fagundes Telles: O universo de sua obra

O conto "Apenas um Saxofone" integra o livro "Antes do baile verde" (publicado em 1970 e traduzido para o tcheco, o russo e o francês); uma das obras mais marcantes da carreira de Lygia Fagundes Telles. Os contos, escritos entre 1949 e 1969, deixam claro para o leitor por que a autora é uma das mais representativas e premiadas escritoras brasileiras.

A autora demonstra uma coragem singular para trabalhar pontos mais delicados da condição humana através de personagens cínicos, amargos e, principalmente, cruéis como neste clássico conto "Apenas um saxofone", onde uma mulher pede ao amante que se mate como prova de amor.

O que mais impressiona nas suas histórias é notar a insistência (obsessão?) em alguns temas. Vai e volta e ela insiste nos mesmos temas. A morte; a loucura, o passado que não volta mais e tantos outros temas que integram o universo ficcional lygiano.

Em Lygia, a temática da morte é algo bastante presente, está permeada de elementos do grotesco, do mistério, do suspense, as vezes carregado de fatalidade e culpa. Os temas nunca estão isolados como pérolas numa concha. O tema da morte, por exemplo, pode ser visto imbricado conjuntamente com o da solidão e loucura.
A personagem de "Apenas um Saxofone" representa não só a solidão, o abandono, mas também a representa a culpa, o medo. Fechada em seu mundo, submissa e só, faz um balanço da sua vida em meio ao álcool. Irritada com as pessoas, com a frivolidade coletiva, de tão lúcida, as vezes beira a loucura. A viagem que ela faz é interior, indaga sobre a sua existência, a sua vida.
Na idéia de solidão narrada nos livros lygianos há sempre um fio de loucura. Em geral, a solidão é encarada de forma infeliz, uma vez que ela paira sempre interditando o desejo do outro, da espera desse outro, transformado em sombra. Solidão que pode levar à derrota, a um processo de amadurecimento e crescimento, ou, simplesmente, pode expor a alienação.
Solidão, passado, morte, loucura... literatura de Lygia não é apenas isso. Diversos contos da escritora são repletos de humor, romantismo, uma certa crença no amor, no sonho, no encontro entre duas pessoas. Nessa linha, há, inclusive, um livro parcialmente autobiográfico, bastante romântico, misto de ficção e realidade, chamado A Disciplina do Amor.
A arte de Lygia tem um grande sentido de libertação porque a toda hora podemos nos ver nos preconceitos das suas personagens. A indiferença, o racismo e elitismo humanos estão na sua obra servindo de espelho para nós.
Além de todos esses temas, suas narrativas turbulentas, de diálogos cuidadosamente esculpidos são marcadas por finais em aberto. Os finais das histórias de Lygia provocam o imaginário do leitor. Boa parte delas "terminam sem terminar", ou seja, fogem do esquema começo-meio-fim. Há sempre uma cartada, uma surpresa, um susto. Ao se ler e reler as suas histórias percebe-se claramente que não se trata de uma escritora maniqueísta, que segue o esquema fácil tipo "novela das oito", com começo e meio arrastados e aquele final com um monte de casamentos. Quem busca um final feliz, típico dos filmes de Hollywood e novelas, não encontrará. O cômodo happy-end passa longe da literatura lygiana.
Nesse Brasil, grassado pelo analfabetismo e por tantas injustiças, ler Lygia Fagundes Telles é um sopro de inteligência e rara beleza. Felizmente ela tem servido como contraponto dessa (sub) cultura descartável, desse lixo que surge e some sem deixar pistas.
Ela escreve desarrumando nossas certezas, expondo nossos preconceitos, medos e desejos, as vezes sombrios, perversos e insanos, mas necessários para mostrar que somos capazes dos atos mais humanos e, ao mesmo tempo, vis e cruéis. Com isso, a autora fala da alma humana, da rede de obstáculos com que o homem se depara diante da vida, do mundo. Assim, a docilidade dos seus personagens é apenas aparente. É que eles estão desnorteados pela sensação de perda, do vazio diante da vida. Os personagens passam muita dor e desencontro porque assim são as nossas relações. No geral, eles agem cruelmente. Crueza que não deixa imune a quem procura os seus livros.
Apesar de expor o tempo todo as dificuldades de relacionamento, a sua obra perpassa também um grão de otimismo porque ela quer que o leitor acredite no ser humano. Apesar de tudo, parece nos dizer, há uma luz. Mesmo expondo a dificuldade de compreensão, de amar o outro, mesmo mostrando o desencontro, as dores do mundo, os anseios e desesperos deste outro, seus livros também têm este otimismo porque ela sabe que nessa busca estamos nós e está a sua literatura.


( extraído de ensaio de Suênio Campos de Lucena; jornalista, escritor e professor de Comunicação Social da UNEB, Universidade do Estado da Bahia, com Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela FACOM/UFBA.)

domingo, 19 de outubro de 2014

ExpoAgnes XXII - 110 anos - Fatos e Pessoas que fizeram a História


1o. lugar - 8o.s e 9o.s anos

A MOEDA QUE FEZ  HISTÓRIA

9o. ano A

                                                     Banco Central do Brasil




                                           A primeira parte do trabalho: o Museu onde encontramos a
                                           história da moeda - sua origem e evolução.




                                 Em todos os momentos do trabalho, fomos convidados a volorizar
                                 o nosso dinheiro.


                                                 Lydice  nos traz informações sobre a nota de 1 real.
                                                  Pessoal, ela continua valendo.                                    



                                                Karyn nos apresenta a cédula de 2 reais.


                                                    Giovanna explica as particularidades da cédula de 5 reais.


                                                    Alice nos informa sobre a nota de 20 reais.


                                            Evelyn nos apresenta a nota de 50 reais.


                                       Amanda expõe a nota de 100 reais.

                                            Descobrimos que esses tijolinhos acima
                                             são as notas que não servem mais para uso.
                                           

Aos pais,colaboradores reais desse árduo trabalho, o nosso
agradecimento.



                               A Turminha:Alice, Evelyn, Lydice, Malu, Amanda, Giovana e Karyn,

                                                                  Meninas, obrigada!


Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera.



                                                           O Rei do Futebol

                                          Essa Turminha contou a história de Pelé. 


                        A Turminha da esquerda para direita: Davi, Rafael, Jayme, Italo, Pedro e Josias.



                                                         A História da Pixar 



           A Turminha: Carlos Alberto, Pedro, Vinícius, Yuri, Gariela, Paula e Silvio.



                                     Anne  Frank

                                 A Turminha: Isabely, Victória, Júlia, Tamires, Manuella, Letícia.

                                                As Duas Torres


                                   A Turminha: Camila, Paila, Larissa, Maris, Vivian, Augusta.

                                                     Destino: Lua!


            A Turminha: Vinícius,  Davi, Israel, Pedro Tavares, Pedro Lima, Eliabe


                                  Músicas da Atualidade


     A Turminha: Graziele, Inaê, Luiz, Thaís, Marcela e Helena.


                                  Desastres Históricos

      A Turminha: Odacy, Zarco, Lucas, Kennedy e Tarciane.


                                Ayrton Senna


                         A turminha: Bruno, Algério, Flávio, Rafael e Guilherme Pontes.


                                                                         Bomba Nuclear
                                                                                       ( coorientadora)


A Turminha: Rodrigo, Matheus, Daniel Lunguinho, Daniel Torres, Sandro, Vinícius e Pedro.


Antibióticos X Bactérias:  a batalha do século
(coorientadora)


            A Turminha: Laura, Victória, Lara, Ana Luísa, Guilherme, Rebeca e Thaís.


                  Agnes: 110 anos construindo história
(coorientadora)


                                                          Avanço da Televisão
( coorientadora)

                                      A Turminha: Dácio, Saulo, Gabriel, Victor e Rodrigo.



                                                   Parabéns, Turminha!




segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A última Crônica ( Fernando Sabino)



     A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

     A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

     Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

     São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

      Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

Texto extraído do livro
 "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, pág. 174.

Ilustração: Samuel Casal
Samuel Casal, 29, é ilustrador profissional desde 1990, e atualmente é Editor de Arte do Diário Catarinense, em Florianópolis. Já colaborou com as revistas Caros Amigos, Você S/A, Macmania, Mundo Estranho, entre outras. Casal também é quadrinhista e suas hqs já foram publicadas nos álbuns Front 8, 9, 10, 11 e 12, na coletânea "10 na Área, um na Banheira e Ninguém no Gol", Ragú 5 e no catálogo da exposição ConSeqüências (Madri/Espanha). Em 2001 ganhou o Troféu HQmix como Desenhista Revelação e em 2003 venceu o XI Salão de Desenho para Imprensa, na categoria Histórias em Quadrinhos.

 Retirado http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp