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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Armadilha




Alexandre Saldanha Ribeiro. Desprezou o elevador e seguiu pela escada, apesar da volumosa mala que carregava e do número de andares a serem vencidos. Dez.

Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava a segurança de uma resolução irrevogável. Já no décimo pavimento, meteu-se por um longo corredor, onde a poeira e detritos emprestavam desagradável aspecto aos ladrilhos. Todas as salas encontravam-se fechadas e delas não escapava qualquer ruído que indicasse presença humana.

Parou diante do último escritório e perdeu algum tempo lendo uma frase, escrita a lápis, na parede. Em seguida passou a mala para a mão esquerda e com a direita experimentou a maçaneta, que custou a girar, como se há muito não fosse utilizada. Mesmo assim não conseguiu franquear a porta, cujo madeiramento empenara. Teve que usar o ombro para forçá-la. E o fez com tamanha violência que ela veio abaixo ruidosamente. Não se impressionou. Estava muito seguro de si para dar importância ao barulho que antecedera a sua entrada numa saleta escura, recendendo a mofo. Percorreu com os olhos os móveis, as paredes. Contrariado, deixou escapar uma praga. Quis voltar ao corredor, a fim de recomeçar a busca, quando deu com um biombo. Afastou-o para o lado e encontrou uma porta semicerrada. Empurrou-a. Ia colocar a mala no chão, mas um terror súbito imobilizou-o: sentado diante de uma mesa empoeirada, um homem de cabelos grisalhos, semblante sereno, apontava-lhe um revólver. Conservando a arma na direção do intruso, ordenou-lhe que não se afastasse.

Também a Alexandre não interessava fugir, porque jamais perderia a oportunidade daquele encontro. A sensação de medo fora passageira e logo substituída por outra mais intensa, ao fitar os olhos do velho. Deles emergia uma penosa tonalidade azul.

Naquela sala tudo respirava bolor, denotava extremo desmazelo, inclusive as esgarçadas roupas do seu solitário ocupante:

— Estava à sua espera — disse, com uma voz macia. Alexandre não deu mostras de ter ouvido, fascinado com o olhar do seu interlocutor. Lembrava-lhe a viagem que fizera pelo mar, algumas palavras duras, num vão de escada.

O outro teve que insistir:
— Afinal, você veio.

Subtraído bruscamente às recordações, ele fez um esforço violento para não demonstrar espanto:

— Ah, esperava-me? — Não aguardou resposta e prosseguiu exaltado, como se de repente viesse à tona uma irritação antiga: — Impossível! Nunca você poderia calcular que eu chegaria hoje, se acabo de desembarcar e ninguém está informado da minha presença na cidade! Você é um farsante, mau farsante. Certamente aplicou sua velha técnica e pôs espias no meu encalço. De outro modo seria difícil descobrir, pois vivo viajando, mudando de lugar e nome.
— Não sabia das suas viagens nem dos seus disfarces.

— Então, como fez para adivinhar a data da minha chegada?

— Nada adivinhei. Apenas esperava a sua vinda. Há dois anos, nesta cadeira, na mesma posição em que me encontro, aguardava-o certo de que você viria.

Por instantes, calaram-se. Preparavam-se para golpes mais fundos ou para desvendar o jogo em que se empenhavam.

Alexandre pensou em tomar a iniciativa do ataque, convencido de que somente assim poderia desfazer a placidez do adversário. Este, entretanto, percebeu-lhe a intenção e antecipou-se:

— Antes que me dirija outras perguntas — e sei que tem muitas a fazer-me — quero saber o que aconteceu com Ema.

— Nada — respondeu, procurando dar à voz um tom despreocupado.

— Nada?

Alexandre percebeu a ironia e seus olhos encheram-se de ódio e humilhação. Tentou revidar com um palavrão. Todavia, a firmeza e a tranqüilidade que iam no rosto do outro venceram-no.

— Abandonou-me — deixou escapar, constrangido pela vergonha. E numa tentativa inútil de demonstrar um resto de altivez, acrescentou: — Disso você não sabia!

Um leve clarão passou pelo olhar do homem idoso:

— Calculava, porém desejava ter certeza.
Começava a escurecer. Um silêncio pesado separava-os e ambos volveram para certas reminiscências que, mesmo contra a vontade deles, sempre os ligariam.
O velho guardou a arma. Dos seus lábios desaparecera o sorriso irônico que conservara durante todo o diálogo. Acendeu um cigarro e pensou em formular uma pergunta que, depois, ele julgaria, desnecessária. Alexandre impediu que a fizesse.
Gesticulando, nervoso, aproximara-se da mesa:

— Seu caduco, não tem medo que eu aproveite a ocasião para matá-lo. Quero ver sua coragem, agora, sem o revólver.

— Não, além de desarmado, você não veio aqui para matar-me.

— O que está esperando, então?! — gritou Alexandre. — Mate-me logo!

— Não posso.

— Não pode ou não quer?

— Estou impedido de fazê-lo. Para evitar essa tentação, após tão longa espera, descarreguei toda a carga da arma no teto da sala.

Alexandre olhou para cima e viu o forro crivado de balas. Ficou confuso. Aos poucos, refazendo-se da surpresa, abandonou-se ao desespero. Correu para uma das janelas e tentou atirar-se através dela. Não a atravessou. Bateu com a cabeça numa fina malha metálica e caiu desmaiado no chão.

Ao levantar-se, viu que o velho acabara de fechar a porta e, por baixo dela, iria jogar a chave.

Lançou-se na direção dele, disposto a impedi-lo. Era tarde. O outro já concluíra seu intento e divertia-se com o pânico que se apossara do adversário:

— Eu esperava que você tentaria o suicídio e tomei precaução de colocar telas de aço nas janelas.

A fúria de Alexandre chegara ao auge:

— Arrombarei a porta. Jamais me prenderão aqui!

— Inútil. Se tivesse reparado nela, saberia que também é de aço. Troquei a antiga por esta.

— Gritarei, berrarei!

— Não lhe acudirão. Ninguém mais vem a este prédio. Despedi os empregados, despejei os inquilinos.

E concluiu, a voz baixa, como se falasse apenas para si mesmo:

— Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos.

(Murilo Rubião)



Murilo
 Eugênio Rubião nasceu em Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas — MG, no ano de 1916. Formado em Direito, foi professor, jornalista, diretor de jornal e de estação de rádio (Rádio Inconfidência). Foi o responsável pela organização do Suplemento Literário do Minas Gerais (1966). Publicou seu primeiro livro de contos "O ex-mágico" em 1947; "A estrela vermelha" (1953); "Os dragões e outros contos" (1965); "O pirotécnico Zacarias" e "O convidado" (1974); "A casa do girassol vermelho" (1978); e "O homem do boné cinzento e outras histórias" (1990). Teve seus principais contos traduzidos para diversos idiomas, alguns adaptados para o cinema e outros encenados. Faleceu em Belo Horizonte, em 1991, onde residiu a maior parte de sua vida.

O texto acima foi extraído do livro "Para Gostar de Ler — Vol. 9 — Contos", Editora Ática — São Paulo, 1984, pág. 17.

Disponível em : http://www.releituras.com/mrubiao_armadilha.asp

X OU CH

Utiliza-se x

Em palavras de origem tupi, árabe e africana.
Ex.: abacaxi (tupi), enxaqueca (árabe), Caxambu ( africana).

Depois de ditongo. Ex.: frouxo, peixe, feixe.
Depois de me - inicial. Ex.: mexerica, México, ( exceção: mecha de cabelo e derivados)
Depois de en - inicial. Ex.: enxada, enxurrada, enxoval, enxaqueca, enxofre, enxugar.

Exceções
Palavras derivadas de cheio - Ex.: encher, enchente, enchimento, preencher.
Palavras derivadas de charco - Ex.: encharcar, encharcado.
A palavra enchouriçar, derivada de chouriço.
A palavra enchova ( um tipo de peixe).

Utiliza-se ch
Em algumas palavras de origem estrangeira. Ex.: chapéu ( francês), salsicha (italiano), sanduíche (inglês).
No verbo encher e seus derivados. Ex.: preencher.


Exercícios



1. Preencha com x ou ch:
___ingar, _____iste, en____aqueca, mo____ila, ca____umba
a. ch – ch – ch – x – x
b. x – x – x – x – x
c. x- ch – x – ch – ch
d. x – ch – x – ch – x
e. x – x – x – cha – x

2. Em que caso todos os vocábulos são grafados com x?

a. __ícara – __ávena – pi__e – be__iga
b. __enófobo – en__erido – en__erto – __aveco – __epa
c. li__ar – ta__ativo – sinta__e – bro__e
d. bre__a – ni__o – em__ova – em__ergam
e. ê__tase _ e__torquir – __u__u – __ilrear

3. Na palavra murcham, aparece o dígrafo ch representando o som que, às vezes, pode ser grafado com a letra x. Aponte qual alternativa em que tal som aparece corretamente grafado:

a. piche – inxar – xícara – flexa – bruxa
b. Cachumba – laxativo – xícara – inxar – pixe – xereta
c. Flexa – broche – pixe – inchar – caxumba – pixe – mexer
d. Broche – bruxa – picxe – xereta – flexa – inxar – penacho
e. Ficha – broche – xereta – xícara – bruxa – inchar – piche

4. Com X ou CH?

Assinale, em cada questão, a única palavra mal escrita:
1. a) atarraxar b) bexiga c) cachumba d) coaxar e) encaixe
2. a) engraxar b) enchada c) enxame d) enxoval e) enxurrada
3. a) esdrúxulo b) fachina c) laxante d) maxixe e) mexerico
4. a) mexilhão b) mixórdia c) tachativo d) xale e) xampu
5. a) xarope b) xícara c) apetrexo d) bochecha e) bombacha
6. a) caximbo b) capuchinho c) chafariz d) chimarrão e) chiste
7. a) xuxu b) cochicho c) colcha d) colchão e) concha
8. a) comichão b) coqueluche c) deboche d) espichar e) faxada
9. a) faixa b) fichário c) flecha d) penacho e) pexinxa
10. a) raxadura b) salsicha c) tacho d) tocha e) inchaço

Gabarito

1.E 
2.B
3. E
4.1.c – caxumba
2.b – enxada
3.b – faxina
4.c – taxativo
5.c – apetrecho
6.a – cachimbo
7.a – chuchu
8.e – fachada
9.e – pechincha
10.a – rachadura


Obs.: Exercício no. 4  - Disponível em: http://g1.globo.com/platb/portugues/2009/09/

Onde Estiveste de Noite?


Lygia Fagundes Telles com Clarice Lispector
                                                                                                    Tirei daqui


              Acordei em meio do grito, gritei? Com os olhos ainda flutuando na vaga zona do sono, levantei a cabeça do travesseiro e quis saber onde estava. E que asas eram aquelas, meu Deus?! Essas asas que se debateram assim tão próximas que o meu grito foi num tom de pergunta, Quem é?...
            Abri a boca e respirei, tinha que me localizar, espera um pouco, espera: estava sentada na cama de um hotel e a cidade era Marília. Cheguei ontem, sim, Marília.
         Tudo escuro. Mas não tinha um relógio ali na cabeceira? Pronto, olhei e os ponteiros fosforescentes me pareceram tranquilos, cinco horas da madrugada. E antes de me perguntar, o que estou fazendo aqui?, veio a resposta assim com naturalidade, você foi convidada para participar de um curso de Literatura na Faculdade de Letras, dezembro de 1977, lembrou agora?
             Voltei-me para a janela com as frestas das venezianas ligeiramente invadidas por uma tímida luminosidade. Por um vão menos estreito podia entrever o céu roxo. E as asas? perguntei recuando um pouco, pois não acordei com essas asas? Pronto, elas já voltavam arfantes no voo circular em redor da minha cabeça. Protegi a cabeça com as mãos, calma, calma, não podia ser um morcego que o voo dos morcegos era manso, aveludado e esse era um voo de asas assustadas, seria um pombo?
           Ainda imóvel, entreabri os olhos e espiei. Foi quando o pequeno ser alado, assim do tamanho da mão de uma criança, como que escapou dos movimentos circulares e fugiu espavorido para o teto. Então acendi o abajur. A verdade é que eu estava tão assustada quanto o pássaro que entrara Deus sabe por onde e agora alcançara o teto abrindo o espaço em volteios mais largos. Levantei-me em silêncio e fui abrir as venezianas. O céu ia emergindo do roxo profundo para o azul. Olhei mais demoradamente a meia-lua transparente. As estrelas pálidas. Voltei para a cama.
          Puxei o cobertor até o pescoço e ali fiquei sentada, quieta, olhando a andorinha, era uma andorinha e ainda voando. Voando. Meu medo agora era que nesse voo assim encegada não atinasse com a janela. Na infância eu tinha convivido tanto com os passarinhos, os da gaiola e esses transviados que entravam de repente dentro de casa e ficavam voando assim mesmo como que encegados até tombarem esbaforidos, o bico sangrando, as asas exaustas abertas feito braços, e a saída?!...
         Vamos, pode descer, eu disse em voz baixa. Olha aí, a janela está aberta, você pode sair, repeti e me recostei no espaldar da cama. E a andorinha quase colada ao teto, voando. Voando. Esperei. O que mais podia fazer senão esperar? Qualquer intervenção seria fatal, disso eu sabia bem. Tinha apenas que ficar ali imóvel, respirando em silêncio porque
até meu sopro podia assustá-la.
        Voltei o olhar para o pequeno relógio. Mas o que significava isso? Uma andorinha assim solta na noite, voando despassarada no meio da noite, de onde tinha vindo e para onde ia? Ainda estava escuro quando ela entrou e começou a voar coroando a minha cabeça com seus voos obsessivos. Que continuavam agora no teto numa ronda tão angustiada. E com tantos quartos disponíveis nessa cidade, por que teria escolhido o quarto do hotel desta forasteira?
      Inesperadamente ela conseguiu escapar da ronda em círculos e foi pousar no globo do lustre. E ali ficou descansando num descanso inseguro porque as patinhas trementes escorregavam no vidro leitoso do globo, teve que apoiar o bico arfante num dos elos da corrente de bronze por onde passava o fio elétrico.
       Vamos, minha querida, desça daí, pedi em voz baixa. A janela está aberta, repeti e fiz um movimento com a cabeça na direção da janela. Para meu espanto, ela obedeceu mas ao invés de sair, pousou na trave de madeira dos pés da minha cama. Pousou e ficou assim de frente, me encarando, as asas um pouco descoladas do corpo e o bico entreaberto, arfante. Ainda assim me pareceu mais tranquila. Os olhinhos redondos fixos em mim. A plumagem azul-noite tão luzidia e lisa, se eu me inclinasse e escorregasse um pouco poderia tocar na minha visitante. Andorinha, andorinha, eu disse baixinho, você é livre. Não quer sair?
         Aos poucos foi ficando mais calma, as asas coladas ao corpo. Continuava equilibrada no espaldar de madeira roliça, mudando de posição num movimento de balanço ao passar de uma patinha para a outra. E os olhos fixos em mim. Mas esta é hora de andorinha ficar assim solta? Por onde você andou, hein?
         Ela não respondeu mas inclinou a cabeça para o ombro e sorriu, aquele era o seu jeito de sorrir. Apaguei o abajur. Quem sabe na penumbra ela atinasse com a madrugada que ia se abrindo lá fora? Com a mão do pensamento consegui alcançá-la e delicadamente fiz com que se voltasse para a janela. Adeus! eu disse. Então ela abriu as asas e saiu num voo alto. Firme. Antes de desaparecer na névoa ainda traçou alguns hieróglifos no azul do céu.
      Véspera dessa viagem para Marília. E a voz tão comovida de Leo Gilson Ribeiro, a Clarice Lispector está mal, muito mal. Desliguei o telefone e fiquei lembrando da viagem que fizemos juntas para a Colômbia, um congresso de escritores, tudo meio confuso, em que ano foi isso? Ah, não interessa a data, estávamos tão contentes, isso é o que importa, contentes e livres na universidade da cálida Cali. Combinamos ir no mesmo avião que decolou sereno mas na metade da viagem começou a subir e a descer, meio desgovernado. Comecei a tremer, na realidade, odeio avião mas por que será que estou sempre metida em algum deles? Para disfarçar, abri um jornal, afetando indiferença, oh! a literatura, o teatro. Clarice estava na cadeira ao lado, aquela cadeira que comparo à cadeira de dentista, cômoda, higiênica e detestável. Então ela apertou o meu braço e riu. Fique tranquila porque a minha cartomante já avisou, não vou morrer em nenhum desastre! E o tranquila e o desastre com aqueles rrr a mais na pronúncia que eu achava bastante charmosa, desastrrre!
         Desatei a rir do argumento. A carrrtomante, Clarice?... E nesse justo instante as nuvens se abriram numa debandada e o avião pairou sereníssimo acima de todas as coisas, Eh! Colômbia. La Nueva Narrativa Latinoamericana. No hotel, os congressistas já tinham começado suas discussões na grande sala. Mas essa gente fala demais! queixou-se a Clarice na tarde do dia seguinte, quando então combinamos fugir para fazer algumas compras. Na rua das lojas fomos perseguidas por moleques que com ar secreto nos ofereciam aquelas coisas que os brasileiros apreciam... Corri com um deles que insistiu demais. Já somos loucas pela própria natureza, eu disse. Não precisamos disso! Clarice riu e com o vozeirão nasalado perguntou onde ficavam as lojas de joias, queríamos ver as esmeraldas, Esmerraldas!
         Quando chegamos ao hotel, lá estavam todos ainda reunidos naqueles encontros que não acabavam mais. Mas esses escrrritores deviam estar em suas casas escrrrevendo! — resmungou a Clarice enquanto disfarçadamente nos encaminhamos para o bar um pouco adiante da sala das ponencias; a nossa intervenção estava marcada para o dia seguinte. Quando eu devia começar dizendo que literatura no tiene sexo, como los ángeles. Alguma novidade nisso? Nenhuma novidade. Então a solução mesmo era comemorar com champanhe (ela pediu champanhe) e vinho tinto (pedi vinho) a ausência de novidades. Já tinham nos avisado que o salmão colombiano era ótimo, pedimos então salmão com pão preto, ah, era bom o encontro das escritoras e amigas que moravam longe, ela no Rio e eu em São Paulo. Tanto apetite e tanto assunto em comum, os amigos. A dificuldade do ofício e que era melhor esquecer no momento, a conversa devia ser amena, que os problemas, dezenas de problemas!, estavam sendo discutidos na sala logo ali adiante. No refúgio do bar, apenas duas guapas brasileñas com pesetas na carteira e com muito assunto. Clarice queria a minha opinião, afinal, quem era mais indiscreto depois da traição, o homem ou a mulher?
         Lembrei que nos antigamentes (assim falava tia Laura) a mulher era um verdadeiro sepulcro, ninguém ficava sabendo de nada. Século xix, início do século xx, Silencio en la noche, diz o tango argentino. Ainda o silêncio porque segundo Machado de Assis, o encanto da trama era o mistério. Na minha primeira leitura (é claro, Dom Casmurro) confessei ter achado Capitu uma inocente e o marido, esse sim, um chato neurótico. Mas na segunda leitura mudou tudo, a dissimulada, a manipuladora era ela. Ele era a vítima. Clarice pediu cigarros, eram bons os cigarros colombianos? Franziu a boca e confessou que sempre duvidou da moça, Mulher é o diabo! exclamou e desatei a rir, a coincidência: era exatamente essa a frase daquele engolidor de gilete do meu conto “O Moço do Saxofone”. Acho que agora elas já estão exagerando, não? Os homens verdes de medo e elas as primeiras a alardear, Pulei a cerca!... Mulher é o diabo!
         Quando saímos, os congressistas já deixavam a sala de reuniões. “Olha só como eles estão fatigados e tristes!”, ela cochichou. E pediu que eu ficasse séria, tínhamos que fazer de conta que também estávamos lá no fundo da sala. Ofereceu-me depressa uma pastilha de hortelã e enfiou outra na boca, o hálito. Entregamos os nossos pacotes de compras a uma camareira que passava e Clarice recomendou muito que a moça não trocasse os pacotes das corbatas, na caixa vermelha estavam as corbatas que ela comprara, a camareira entendeu bem?
      As recomendações de Clarice. No último bilhete que me escreveu, naquela letra desgarrada, pediu: Desanuvie essa testa e compre um vestido branco!
          Um momento, agora eu estava em Marília e tinha que me apressar, o depoimento seria dentro de uma hora, ah! essas demoradas lembranças.
         Quando entrei no saguão da Faculdade, uma jovem veio ao meu encontro. O olhar estava assustado e a voz me pareceu trêmula, A senhora ouviu? Saiu agora mesmo no noticiário do rádio, a Clarice Lispector morreu essa noite!
          Fiquei um momento muda. Abracei a mocinha. Eu já sabia, disse antes de entrar na sala. Eu já sabia.

Telles, Lygia Fagundes
Durante Aquele Estranho Chá : Memória e Ficção / Lygia
Fagundes Telles — São Paulo : Companhia das Letras, 2010.

Disponível em:>http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/12805.pdf


terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Primeiro dia


                                                Tirei daqui

O que o acordou foi o silêncio. Primeiro, o do despertador que não tocou à hora combinada todas as manhãs. Depois, o de outra respiração, que devia ouvir e não ouvia. Estendeu a mão para o quente do outro lado da cama e encontrou o frio. Apalpou e encontrou vazio. Então, sim, despertou completamente.

Um prenúncio de tragédia desceu por ele abaixo, como um arrepio. O que acabara de se lembrar era que não acordara só por acaso ou por acidente: aquele era o primeiro dia, a primeira manhã da sua separação — o primeiro de quantos dias? — em que acordaria sempre sozinho, com metade da cama fria, metade do ar por respirar.

Era Abril, sábado e chovia. Sentado na cama, lembrou-se das instruções que dera a si mesmo para aquela manhã: fazer peito forte à desgraça. Nada é inteiramente bom, mas nada é inteiramente mau - pensou. Posso ler à noite até me apetecer sem me mandarem apagar a luz, posso dormir atravessado na cama, posso-me livrar daquele rol de cobertores com o qual ela me esmagava, fizesse sol, chuva ou frio, porque as mulheres são mais friorentas que eu sei lá, posso usar a casa-de-banho todo o tempo que quiser, posso espalhar as roupas, os jornais e os papéis pelo quarto à vontade e até - oh, suprema liberdade — posso fumar à noite na cama.

Levantou-se para se olhar ao espelho da casa-de-banho. Sorriu à sua própria imagem, ensaiou-a calma, tranquila, confiante. Imaginou mentalmente o texto que poderia redigir sobre si mesmo para a secção de anúncios pessoais do jornal: “Divorciado, 40 anos, bom aspecto, licenciado, rendimento médio-alto, casa própria e espaçosa, desportos, ar livre, terno e com sentido de humor”. Mulheres compatíveis? Deus do céu, dezenas delas! Sou um partidão — concluiu para o espelho.

Calmo, tranquilo e confiante, passou aos outros aposentos da casa para dar uma vista de olhos ao resultado da partilha dos móveis, aliás feita sem grandes problemas, como é próprio de gente civilizada. Por alto, entre o living, o hall, o escritório, a cozinha, o quarto de casal e as duas casas-de-banho, estimou nuns setecentos contos o preço da reposição das coisas em falta. Mais metade dos livros e dos CD's, quase todas as fotografias dos últimos dez anos das suas vidas e algumas outras coisas cujo verdadeiro valor era o vazio que encontrava se olhasse para o lugar onde elas costumavam estar.

“Até agora vou-me aguentando”, considerou ele. Entre perdas e danos e a certeza adquirida de que nada dura para sempre, restavam-lhe várias razões e objectos e sentimentos para olhar em frente sem um sobressalto.

Enquanto fazia, com um prazer insuspeitado, o seu primeiro pequeno-almoço de homem só, passou à fase seguinte do que chamara o “plano de sobrevivência”: desfolhar a agenda de telefones em busca de amigos igualmente sós com quem fazer “programas de homens” ou de antigas namoradas, que se tinham separado ultimamente ou outras que achava acessíveis mas que nunca tivera a coragem e a oportunidade de aproximar. A primeira desilusão foi com os amigos: de A a Z, realizou que só tinha dois amigos sem mulher e, para agravar as coisas, com nenhum deles lhe apetecia sair e entrar numa de “anda daí e mostra-me lá como é o mundo lá fora”. Quanto às mulheres que julgava sortables, sempre eram cinco, mas o resultado foi quase patético. Duas já não moravam naqueles telefones, outra tinha-se casado entretanto, e o marido estava ao lado a ouvir a conversa, o que o deixou completamente idiota a inventar pretextos absurdos para o telefonema. Do número da quarta atendeu uma criancinha e ele desligou e foi só na última da lista que finalmente teve sorte: sim, a Joana morava ali, era ela própria ao telefone. Não, não estava casada nem, pelo que, esforçadamente, percebeu, tinha namorado. Sim, ok, por que não irem jantar logo, para falar do projecto que ele tinha e onde ela poderia caber. “Ah, a tua mulher não vem? Separados? Não, não sabia. Recente? Pois, essas coisas são tão chatas, mas ainda bem que reages e tens projectos novos e tudo! Ok, às oito e meia vens-me buscar”. Ele teria desligado quase em êxtase, não fosse a frase final dela, à despedida, que o deixou verdadeiramente abalado. “Olha, vais-me achar uma grande diferença. A idade não perdoa a ninguém, não é?”

Enfim, sempre era um date. O primeiro, certamente, de uma longa lista. O que interessa se for um flop — achas que ias encontrar uma mulher super logo ao virar da esquina? É preciso é entrar no circuito, pá, começar a sair, a ser visto, fazer com que as pessoas saibam que estás disponível. O resto vem por arrasto.

Passeou-se pela casa, pensativo, fumando o primeiro cigarro do dia. De repente lembrou-se que ainda não tinha visto o quarto do filho. A cama e a escrivaninha tinham ido, assim como praticamente todos os brinquedos. Sobrava um boneco de peluche, três ou quatro carrinhos semi-partidos, unslegos e um quadro para fazer desenhos, com os respectivos marcadores, pousados, à espera de uma mão de criança. A mesa-de-cabeceira ficara e parecia absurda no meio do quarto, sem a cama nem os outros móveis, com um retrato dele e do filho numa praia do Algarve, sorrindo, abraçados um ao outro. Sem saber porquê, sentou-se no chão encostado à parede, muito devagar, a olhar para a fotografia. Duas grossas lágrimas escorregaram-lhe pela cara abaixo e caíram na madeira do chão, entre as pernas. Foi só então que ele percebeu que estava a chorar.
(foi mantida a grafia original)

Texto extraído do livro “Não te deixarei morrer, David Crockett”, Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2005, pág. 23.

Disponível em: . http://www.releituras.com/mstavares_primeiro.asp

Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares nasceu no Porto, Portugal. Abandonou a advocacia pelo jornalismo, até se entregar à escrita literária. Colunista do jornal Público e da revista Máxima, é comentarista da Rádio e Televisão de Portugal (RTP). Jornalista famoso e controvertido, é dono de opiniões fortes, trava polêmicas em vários campos: política, literatura, esportes e outros. Seu primeiro livro lançado no Brasil foi “Equador”, que obteve enorme receptividade entre o público leitor. O autor é filho da grande poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, falecida em 2004.



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Imperativo

Estude mais!





IMPERATIVO
O modo imperativo possui duas formas distintas, a positiva e a negativa, cada qual formada de uma maneira específica.

IMPERATIVO AFIRMATIVO
FORMAÇÃO

No caso das pessoas “tu” e “vós”, o imperativo afirmativo é formado a partir do presente do indicativo, eliminando-se o “s” ao final da 

conjugação. Para as demais pessoas, a formação é igual à do presente do subjuntivo.

Exemplo:

Talvez ele chegue cedo. (Presente do subjuntivo)

Chegue cedo. (Imperativo afirmativo)

Observe a tabela:

                                                    Tirei daqui




AMAR
Ama tu
Ame você
Ame ele
Amemos nós
Amai vós
Amem vocês
Amem eles

COMER
Come tu
Coma você
Coma ele
Comamos nós
Comei vós
Comam vocês
Comam eles

PARTIR
Parte tu
Parta você
Parta ele
Partamos nós
Parti vós
Partam vocês
Partam eles

sete verbos irregulares no imperativo:

SER
Sê tu
Seja você
Seja ele
Sejamos nós
Sede vós
Sejam vocês
Sejam eles

IR
Vai tu
Vá você
Vá ele
Vamos nós
Ide vós
Vão vocês
Vão eles

QUERER
Quer tu / Quere tu
Queira você
Queira ele
Queiramos nós
Querei vós
Queiram vocês
Queiram eles

ESTAR
Está tu
Esteja você
Esteja ele
Estejamos nós
Estai vós
Estejam vocês
Estejam eles

HAVER
Há tu
Haja você
Haja ele
Hajamos nós
Havei vós
Hajam vocês
Hajam eles

DAR
Dá tu
Dê você
Dê ele
Demos nós
Dai vós
Deem vocês
Deem eles

SABER
Sabe tu
Saiba você
Saiba ele
Saibamos nós
Sabei vós
Saibam vocês
Saibam eles

IMPERATIVO NEGATIVO
FORMAÇÃO

O imperativo negativo é sempre idêntico ao presente do subjuntivo:

AMAR
Não ames tu
Não ame você
Não ame ele
Não amemos nós
Não ameis vós
Não amem vocês
Não amem eles

COMER
Não comas tu
Não coma você
Não coma ele
Não comamos nós
Não comais vós
Não comam vocês
Não comam eles

PARTIR
Não partas tu
Não parta você
Não parta ele
Não partamos nós
Não partais vós
Não partam vocês
Não partam eles

Alguns verbos irregulares:

SER
Não sejas tu
Não seja você
Não seja ele
Não sejamos nós
Não sejais vós
Não sejam vocês
Não sejam eles

IR
Não vás tu
Não vá você
Não vá ele
Não vamos nós
Não vades vós
Não vão vocês
Não vão eles

QUERER
Não queiras tu
Não queira você
Não queira ele
Não queiramos nós
Não queirais vós
Não queiram vocês
Não queiram eles

O modo imperativo é usado:

1. Para expressar ordens e conselhos:
“- Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos Mosqueteiros.” 
(Machado de Assis, 1899)
Filho, faça o dever de casa e não chegue tarde!

2. Para expressar pedidos e súplicas:
Perdoai as nossas ofensas.
Vamos ao cinema? 

Observações:
1. O modo imperativo não possui primeira pessoa do singular, já que é impossível dar uma ordem ou fazer um pedido a si mesmo.

2. É muito comum a substituição do imperativo pelo presente do indicativo, como forma de suavizar a maneira com que as ordens são dadas:

“- Eh! Gaetaninho! Vem prá dentro.” (Alcântara Machado, 2004)
- O que faço agora?
- Você põe a panela no fogo.

3. O imperativo, em alguns casos, também pode ser substituído pelo gerúndio ou pelo futuro do presente simples:

Andando, pessoal, andando! Precisamos concluir o trajeto ainda hoje!
Iremos para a sala do diretor agora.




Exercícios

01. Assinale a resposta correspondente à alternativa que completa corretamente os espaços em branco: 

Não .................... Você não acha preferível que ele se ........................ sem que você o ......................? 

a) interfere - desdiz - obriga 

b) interfira - desdisser - obrigue 

c) interfira - desdissesse - obriga 

d) interfere - desdiga - obriga 

e) interfira - desdiga - obrigue 

02. A forma verbal do imperativo não está correta na frase:
 a) Tu falas demais! Fala um pouco menos! 
b) Você fala demais! Fale um pouco menos! 
c) Nós falamos demais! Falemos um pouco menos!
 d) Vós falais demais! Faleis um pouco menos! 
 e) Eles falam demais! Falem um pouco menos!

03. Considerando o emprego do imperativo dos verbos entre parênteses, assinale a série que preenche corretamente as frases abaixo :
 Menino, .......... amigo de seus pais. (ser) 
Menino ........... bondoso com teus amigos. (ser) 
Prepare-se para partir e ......... os livros na estante. (pôr)
 ............ eternamente teu glorioso nome. (honrar) 
............ bons em vossas ações. (ser) 

a) sede – sejas – ponhas – honrai – sê 
b) seje – sejais – ponde – honra – sejais 
c) sê – sede – põe – honres – sede 
d) seja – sejas – põe – honre – sejais 
e) seja – sê – ponha – honra – sede 

04. Segundo o exemplo, assinale a alternativa correta: Jogar? Jogai vós. Faça o mesmo com os verbos: trazer, tragar, ir, ler
 a) trazei, tragai, ide, lede 
b) tragam, traguem, vão, leiam 
c) trazeis, tragais, ides, ledes 
d) tragais, tragueis, vades, leiais 
e) traze, traga, vão, leia 

05. Aponte a alternativa correta: 
............ em ti; mas nem sempre ................ dos outros.
 a) Creias – duvides b) Crê – duvidas c) Creias – duvidas d) Creia – duvide e) Crê – duvides 

06. “Aproveita, pois, a lição!” Assinale a alternativa em que a forma verbal é a mesma do verbo destacado na frase acima:
 a) Como te enganas, meu filho! 
b) Ai, que ainda me bate o coração! 
c) Vem cá, meu filho! 
d) Sim senhor! É interessante isto!

07. No período “Fecha os olhos e esquece”, os verbos estão na segunda pessoa do singular do imperativo afirmativo. Damos a seguir algumas variações desse mesmo período, mudando ora o tratamento, ora a forma do imperativo; uma delas é incorreta. Assinale-a: 
a) Não feches os olhos, nem esqueças.
 b) Fechai os olhos e esquecei.
 c) Feche V. Ex.ª os olhos e esqueça. 
d) Não fecheis os olhos, nem esqueçais.
 e) Não fechai os olhos, nem esquecei.

08. Assinale a única alternativa que contém erro na passagem da forma verbal, do imperativo afirmativo para o imperativo negativo: 

a) parti vós - não partais vós 

b) amai vós - não ameis vós 

c) sede vós - não sejais vós 

d) ide vós - não vais vós 

e) perdei vós - não percais vós 

09. Para completar corretamente as frases: 

........................... (pôr - imperativo afirmativo) mais atenção no que você faz. 

...................... (pôr - imperativo afirmativo) mais atenção no que tu fazes. 

..................... (pôr - imperativo afirmativo) mais atenção no que vós fazeis. 

...................... (requerer - primeira pessoa do singular do presente do indicativo) licença. 

a) ponha, põe, ponde, requeiro 

b) ponhas, põe, ponde, requeiro 

c) ponde, ponde, punhas, requero 

d) ponhe, ponde, punhas, requero 

e) n.d.a 


10. Assinale a alternativa em que todas as formas estejam na segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo: 

a) ouvi, vinde, ide, traze 

b) ouvi, vinde, ide, trazei 

c) ouvi, venhas, ide, trazei 

d) ouça, vinde, vá, tragais 

e) ouça, venhas, vás, tragais


11. "Não fales! Não bebas! Não fujas!" Passando tudo para a forma afirmativa, teremos: 

a) Fala! Bebe! Foge! d) Fale! Beba! Fuja! 

b) Fala! Bebe! Fuja! e) Fale! Bebe! Foge! 

c) Fala! Beba! Fuja!

GABARITO - 1E, 2D, 3E, 4A, 5E, 6C, 7E, 8D (VAIS, VADES), 9A, 10B, 11A.

Exercícios sobre Literatura informação e dos Jesuítas - Quinhentismo

Oi, Turminha!

Mais exercícios para treino. Bom estudo!



01. As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura Brasileira referem-se a:

a) Literatura informativa sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obra dos jesuítas).
b) Romances e contos dos primeiros colonizadores.
c) Poesia épica e prosa de ficção.
d) Obras de estilo clássico, renascentista.
e) Poemas românticos indianistas.

02. A literatura de informação corresponde às obras:
a) barrocas;
b) arcádicas;
c) de jesuítas, cronistas e viajantes;
d) do Período Colonial em geral;

03. Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha?
a) Observação do índio como um ser disposto à catequização.
b) Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical.
c) Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus costumes.
d) Composição sob forma de diário de bordo.
e) Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das descrições.

04. (UNISA) A “literatura jesuíta”, nos primórdios de nossa história:
a) tem grande valor informativo;
b) marca nossa maturação clássica;
c) visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral;
d) está a serviço do poder real;
e) tem fortes doses nacionalistas.

05. A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses do século XVI e XVII é:
a) determinada exclusivamente pelo seu caráter literário;
b) sobretudo documental;
c) caracterizar a influência dos autores renascentistas europeus;
d) a deterem sido escritas no Brasil e para brasileiros;
e) n.d.a.

06. Anchieta só não escreveu:

a) um dicionário ou gramática da língua tupi;
b) sonetos clássicos, à maneira de Camões, seu contemporâneo;
c) poesias em latim, portugueses, espanhol e tupi;
d) autos religiosos, à maneira do teatro medieval;
e) cartas, sermões, fragmentos históricos e informações.

07. São características da poesia do Padre José de Anchieta:
a) a temática, visando a ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil;
b) linguagem cômica, visando a divertir os índios; expressão em versos decassílabos, como a dos poetas clássicos do século XVI;
c) temas vários, desenvolvidos sem qualquer preocupação pedagógica ou catequética;
d) função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilhas, o que permitia que fossem cantadas ou recitadas facilmente.

08. (UNIV. FED. DE SANTA MARIA) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que:
a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese.
b) Inicia com Prosopopéia, de Bento Teixeira.
c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica.
d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica.
e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo.


09. (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede:

Dos vícios já desligados
nos pajés não crendo mais,
nem suas danças rituais,
nem seus mágicos cuidados.
(ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110)

Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão:
a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus.
b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa.
c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés.
d) Os meninos índios são figura alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista.
e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível.


Gabarito:

01. A 02. C 03. E 04. C 05. B 06. B 07. D 08. C 09. A
Fonte: http://www.coladaweb.com/exercicios-resolvidos/exercicios-resolvidos-de-portugues/quinhentismo