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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

José Luis Peixoto





                                                              José Luís Peixoto
                                                                                Tirei daqui


Fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e 
vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas
dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: 
fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua 
onde os nossos olhares se encontram é noite: as 
pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, 
tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: 
nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a 
ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades
de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, 
Pergunto dentro de mim: será que vou morrer? Olhas-me e só tu
sabes:ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode 
dizer:amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: 
um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga. 


(José Luis Peixoto)




José Luís Peixoto (1974, Galveias, Portalegre, Portugal), escritor Português.    
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Tem publicado poesia e prosa. Recebeu o Prémio Jovens Criadores (área de literatura) nos anos 97, 98 e 2000. Em 2001, o seu romance «Nenhum Olhar» recebeu o Prémio Literário José Saramago. Está representado em diversas antologias de prosa e de poesia nacionais e estrangeiras. É colaborador de diversas publicações nacionais e estrangeiras. Em 2005, escreveu as peças de teatro «Anathema» (estreada no Theatre de la Bastille, Paris) e «À Manhã» (estreado no Teatro São Luiz, Lisboa). Em 2006, publicou o romance «Cemitério de Pianos». Os seus romances estão publicados em França, Itália, Bulgária, Turquia, Finlândia, Holanda, Espanha, República Checa, Croácia, Bielo-Rússia e Brasil.    
Estando actualmente em preparação edições no Reino Unido, Hungria e Japão.

    Obras: 

Morreste-me (ficção, 2000)
Nenhum Olhar (romance, 2000)
A Criança em Ruínas (poesia, 2001)
Uma Casa na Escuridão (romance, 2002)
A Casa, a Escuridão (poesia, 2002)
Antídoto (ficção, 2003)
Cemitério de Pianos (romance, 2006)

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