Pages

sábado, 19 de janeiro de 2013

À espera do amor




                           Tirei daqui



Aproxima-se da porteira do cinema.
- Ela chegou?
- Quem?
- Minha namorada.
- Como vou saber quem é?
- Verdade, você não a conhece. E devem entrar aqui centenas de pessoas.
- Por dia? Milhares, principalmente num filme como esse! Não sei o que viram nele.
- História de amor. Todo mundo gosta.
- Amor! Como se alguém acreditasse no amor.
- Eu acredito. Por isso estou aqui, à espera de minha namorada.
- Há meses você vem aqui todos os dias. Meses!
Ficou por ali, sempre com o rabo do olho na entrada do cinema. Terminou a primeira sessão, nada. A segunda, tudo igual. Antes da terceira – porque eram sessões corridas, normais sempre que havia um filme de sucesso – houve uma troca de porteiros. 
Chegou o sujeito carrancudo que sempre desconfiava dele e, um dia, tinha chegado a chamar o segurança para expulsá-lo. Tudo tinha se resolvido, O porteiro acenou:
- Continua à espera?
- Sempre!
- Não entendo, juro que não entendo.
- Porque nunca amou.
- Quem disse?
- Veja a sua cara! Amarrada, amargurada, tem o olhar triste e fundo. Cadê a alegria de quem ama?
- Gosto muito.
- Gostar não é amar.
- Achei que era a mesma coisa.
- Amar é tudo.
- E gostar?
- Gostar é gostar. Amar é amar. Gostar quer dizer trinta por cento do sentimento. Amar é cem por cento.
- Você é estranho. Não te entendo. Diz coisas complicadas.
- Amar é simples.
- Fico te olhando, você vem aqui todos os dias, á espera dessa namorada que nunca aparece.
- Vai aparecer.
- Por que não liga pra ela?
- Não tenho o número!
- Namora e não tem o número:
- Não namoro ainda. Vou namorar.
- O quê?
- Vou namorar. O dia em que ela chegar e entrar por essa porta, vou saber que é ela.
- Como? Como é que se sabe?
- Sabendo. É olhar e sentir. O coração acelera, a gente começa a suar, o estomago sobe para a garganta, a respiração fica ofegante, as pernas ficam bambas, as unhas tremem.
- As unhas tremem?
- É a melhor coisa. Tão bom viver assim… Você se sente desaparecer.
- Desaparecer?
- Some. E quando perceber, você é outro. Está naquele que ama. Inteiro dentro, uma coisa só. Daquele momento em diante, dois viram um.
- Sei, sei…
Nesse momento, ele se afastou para deixar entrar uma jovem morena, de olhos miúdos e um riso que se esparramava pelo rosto. Ele começou a suar.
Os dois se olharam e ele percebeu que após meses e meses tinha acontecido. O coração acelerou.
A espera tinha terminado. As unhas tremeram.
Ela continuou olhando e também sentiu. O estomago subiu à garganta. E o porteiro ficou assombrado, quando em lugar de duas pessoas, viu entrar apenas uma no cinema.
Onde estava a outra? Quem entrou piscou maliciosamente para ele.
- “Entendeu?” - perguntou.
O porteiro fez que sim… Era o amor.



Ignácio Loyola Brandão

Um comentário: