Os próximos parágrafos falam sobre o comportamento dos nativos quando do contato com os brancos.O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, e uma alcatifa aos pés por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço. E Sancho de Tovar e Simão de Miranda e Nicolau Coelho e Aires Correia e nós outros que aqui na nau com ele íamos, assentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam tochas e eles entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão a acenar com a mão para a terra, e depois para o colar, como que nos dizendo que havia em terra ouro.

E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal como que havia lá também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo. Tomaram-no logo nas mãos e acenaram para a terra como que dizendo haver deles ali. Mostraram-lhes um carneiro e não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela e não lhe queriam por a mão, depois a tomaram mas como espantados.
Nos 3 próximos parágrafos Caminha faz uma conclusão bem otimista da carta
"... dar-se-á nela tudo, ..." Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais vimos contra o sul, até outra ponta que vem contra o norte, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Traz ao longo do mar, em algumas partes grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas, e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos, de ponta a ponta é toda praia plana muito chã e muito formosa. Sobre o sertão, nos parece, do mar, muito grande porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredo, que nos parecia mui longa terra.

Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro lho vimos. Mas, a terra em si, é de muitos bons ares, frios e temperados como os de Entre-Doiro e Minho, porque neste tempo de agora, assim os achávamos, como os de lá. Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Mas, o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
A intenção de aculturar os índios para a fé católica
(...)Acabada a missa, desvestiu-se o padre e pôs-se em uma cadeira alta e nós todos, lançados por essa areia, e pregou uma solene e proveitosa pregação da história do Evangelho e, ao fim dela, tratou da nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da cruz, sob cuja obediência viemos e que veio muito a propósito e fez muita devoção.
(....)
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhe falece outra coisa para ser cristã, senão entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmo, por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem mais entre eles devagar ande, que todos seriam tornados ao desejo de Vossa Alteza. E, para isso, se alguém vier, não deixe logo de virem clérigos para os batizar porque já então terão mais conhecimento de nossa fé pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais, ambos, hoje também comungaram. 

Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, a quem deram um pano com que se cobrisse e puseram-lho ao redor de si. Mas ao assentar não fazia memória de o muito entender para se cobrir. Assim, Senhor, que a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria mais, quanto à vergonha. Ora veja Vossa Alteza, quem em tal inocência vive, ensinando-lhes o que para sua salvação pertence, se se converterão ou não?