Pages

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O PRESENTE



O que hoje recebes
e não podes pegar, guardar
em panos e papéis laminados,
é imperecível,
presente onipresente.
Estás com ele na chuva
e não temes que se desfaça.
Estás com ele na multidão
e não o escondes dos mutilados.
O que não existe para os homens
deles estará protegido,
o que os homens não veem
não poderão espedaçar.
Eis o que não te denuncia
porque não tem face
nem volume para ser jogado no mar.
Eis o que é jovem a cada lembrança
porque não tem data
e série, para envelhecer.
O que hoje recebes
Não pode ser devolvido.
Alberto da Cunha Melo. O cão de olhos amarelos. Rio de janeiro: A girafa, 2006.





O poema que você leu foi escrito pelo poeta pernambucano Alberto de Cunha Melo e faz parte de seu livro O cão de olhos amarelos, premiado pela Academia Brasileira de Letras como a melhor obra de poesia publicada em 2006. Alberto Cunha Melo nasceu em Jaboatão dos Guararapes /PE em 1942 e faleceu em 2007. Ele publicou catorze livros de poesia e participou de 32 antologias, duas delas internacionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário