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sexta-feira, 1 de junho de 2012



O Modernismo no Brasil – 1ª fase

Alguns participantes da semana de Arte Moderna : Mário de Andrade, Oswald de        Andrade, Victor Brecheret, Plínio salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sergio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Tácito de Almeida, entre outros.

A Semana de Arte Moderna (1922) é considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro.

A Semana ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, com participação de artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O evento contou com apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música. O Grupo dos Cinco, integrado pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, liderou o movimento que contou com a participação de dezenas de intelectuais e artistas, como Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, entre muitos outros.

Os modernistas ridicularizavam o parnasianismo, movimento artístico em voga na época que cultivava uma poesia formal. Propunham uma renovação radical na linguagem e nos formatos, marcando a ruptura definitiva com a arte tradicional. Cansados da mesmice na arte brasileira e empolgados com inovações que conheceram em suas viagens à Europa, os artistas romperam as regras preestabelecidas na cultura.

Na Semana de Arte Moderna foram apresentados quadros, obras literárias e recitais inspirados em técnicas da vanguarda europeia, como o dadaísmo, o futurismo, o expressionismo e o surrealismo, misturados a temas brasileiros.


Os participantes da Semana de 1922 causaram enorme polêmica na época. Sua influência sobre as artes atravessou todo o século XX e pode ser entendida até hoje.

A primeira fase do Modernismo

O movimento modernista no Brasil contou com duas fases: a primeira foi de 1922 a 1930 e a segunda de 1930 a 1945. a primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e pela divulgação de obras e ideias modernistas.

Os escritores de maior destaque dessa fase defendiam estas propostas: reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais; promoção de uma revisão crítica de nosso passado histórico e de nossas tradições culturais; eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros. Portanto, todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira.

Várias obras, grupos, movimentos, revistas e manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro, numa investigação profunda e por vezes radical de novos conteúdos e de novas formas de expressão.
Entre os fatos mais importantes, destacam-se a publicação da revista Klaxon, lançada para dar continuidade ao processo de divulgação das ideias modernistas, e o lançamento de quatro movimentos culturais: o Pau-Brasil, o Verde-Amarelismo, a Antropofagia e a Anta.

Esses movimentos representavam duas tendências ideológicas distintas, duas formas diferentes de expressar o nacionalismo.

O movimento Pau-Brasil defendia a criação de uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização das riquezas e contrastes da realidade e da cultura brasileiras.

A Antropofagia, a exemplo dos rituais antropofágicos dos índios brasileiros, nos quais eles devoram seus inimigos para lhes extrair força, Oswald propõe a devoração simbólica da cultura do colonizador europeu, sem com isso perder nossa identidade cultural.

Em oposição a essas tendências, os movimentos Verde-Amarelismo e Anta, defendiam um nacionalismo ufanista, com evidente inclinação para o nazifascismo.
Dentre os muitos escritores que fizeram parte da primeira geração do Modernismo destacamos Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida.




O Modernismo no Brasil – 2ª fase



A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou denunciando-a.

O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade.
O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo – exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica.

Na prosa, foi evidente o interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira, com um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo – Naturalismo do século XIX.
O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados.
Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas, surgiu o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista.

A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como uma poesia de questionamento: da existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”, inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa.



"Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo"                      


Carlos Drummond 


Dentre os muitos poetas e escritores dessa fase destacamos:

Na prosa:
- Graciliano Ramos
- Rachel de Queiros
- Jorge Amado
- José Lins do Rego
- Érico Veríssimo
- Dionélio Machado

Na poesia

- Carlos Drummond de Andrade
- Murilo Mendes
- Jorge de Lima
- Cecília Meireles
- Vinícius de Morais.


O Romance de 30



Em 1926, ocorre um congresso em Recife e nele se encontram escritores do Nordeste; estes se dispõem, aos poucos, a fazer uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras manifestações que surgirá um dos momentos mais autênticos da literatura brasileira, o Romance de 30.


A data de 1930 é marcante porque consolida a renovação do gênero romance no Brasil, ou seja, traz novos rumos à prosa. Depois de tanta arruaça intelectual dos primeiros modernistas no Sudeste do país, procura-se atingir equilíbrio e estabilidade, que, aos poucos, vai aparecendo em obras e mais obras: O quinze, de Rachel de Queiroz (1930); O país do Carnaval, de Jorge Amado (1931); Menino de engenho, de José Lins do Rego (1932); São Bernardo, de Graciliano Ramos (1934); e Capitães da areia, de Jorge Amado (1937).

Esta nova literatura em prosa será antifascista e anticapitalista, extremamente vigorosa e crítica. Os livros didáticos a chamam com vários nomes: "Romance de 30" (porque é o início cronológico da nova literatura);romance neo-realista (porque essas obras conseguiram renovar e modernizar o realismo/naturalismo do século 19, enriquecendo-o com preocupações psicológicas e sociais) ou romance regionalista moderno(porque escapa das metrópoles e vai ao Brasil regional, preso ainda a antinomias dos séculos anteriores).

Lembremos, inclusive, que algumas obras sociológicas fundamentais surgem nessa mesma época: Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, é de 1933, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, de 1936.

De todos os nomes para essa época, o melhor parece ser o do título deste artigo. Por quê? Porque os romances de Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo, completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem regional, as gírias locais.

A consciência crítica


Mais do que tudo, através dessa "fala", consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.


Leia, por exemplo, um trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos
[...]
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanhacado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Perceba a força narrativa com que o narrador descreve a cena cruel, de retirantes exaustos sob o sol, a família silenciosa e triste, com a qual ele se solidariza ("os infelizes"); ele e nós, os leitores. A lentidão proposital da narrativa é a superação difícil do caminho sob o sol (para onde vai quem não tem terras?) e a secura descritiva reproduz o silêncio dos que estão exaustos. Essa é a seca vida do herói - agora um anti-herói -, humilhado e vencido pelo meio hostil.

Esses romances foram fundamentais para o amadurecimento da consciência crítica e social do leitor brasileiro. Com eles, encontramos formas de compreensão do homem em várias faixas da sociedade brasileira e do determinismo que o persegue em situações adversas. É injusto pensarmos que esses romances mostraram apenas as "mulatas gabrielas" para o mundo exterior. As formas de narrar o cotidiano ficaram mais complexas e tensas.

Leia mais um trecho de Graciliano Ramos, não da história de Fabiano, mas da de Paulo Honório, que foi guia de cego e trabalhador de enxada, mas conseguiu conquistar, com violência e determinação, além da fazenda de São Bernardo, respeito, dinheiro e prestígio: virou um coronel. Teria sido um Fabiano que deu certo? Parece que não:

Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei
[...]
Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.
[...]
Não consigo modificar-me, é o que aflige.
[....]
A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.

A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura.

Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência" brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.

Por outro lado, mesmo com os romances mais pitorescos e menos brutais, os leitores aprenderam, como nos ensina Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira), que o velho mundo dos homens poderosos não acaba tão facilmente: as estruturas das oligarquias regionais se mantêm através do poder e da força, e é contra eles que se tem de lutar. Como nos conta Jorge Amado, ao final de Capitães da areia:

No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.
[...] E no dia em que ele fugiu..., em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. [...] Qualquer daqueles lares se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.Por Márcia Lígia Guidin

Modernismo no Brasil - a 3ª geração

Crítica social e metalinguagem


Depois do modernismo da Semana de Arte Moderna, em 1922 (1ª geração modernista), e do incisivo e duro modernismo de 1930, em que predominou o romance regionalista (2ª geração modernista), começam a se instalar, a partir de 1945/1950, novos rumos para a literatura brasileira.


A data é fundamental para o mundo todo porque corresponde ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O ano de 1945 foi especialmente importante para o Brasil literário, pois também é o ano da morte deMário de Andrade - o grande artista, poeta e teórico do modernismo. Com sua morte, encerram-se, simbolicamente, as primeiras vanguardas que realizaram a Semana de Arte.

Além desses fatos, uma nova Constituição, a de 1946, estabelecia pactos sociais novos, tidos como modernizantes e mais justos para o país. Ou seja, o Brasil se modernizava, como, aliás, ocorria no mundo todo. E todos olhavam para os Estados Unidos, que crescia como potência.

Poetas, prosadores e artistas em geral, ajustando-se ao mundo pós-guerra, já tinham total liberdade de usar as formas que quisessem e a temática que lhes parecesse mais adequada para interpretar a vida e o nosso país. Com tal liberdade, até a rima poderia voltar aos poemas - e voltou. Por que não?, diziam os poetas. E, embora esse retorno fosse uma espécie de retrocesso da forma, falava-se muito em desenvolvimento e progresso.

Os avanços sociais e tecnológicos pipocavam no mundo todo e (é compreensível) havia uma postura entusiasmada em todas as sociedades -norte-americana, europEia e japonesa: todas em reconstrução. É fácil entender, então, por que se volta a falar em "nacionalismo" e por que se volta a valorizar a arte regional e popular em todos os cantos.

Novos caminhos


No Brasil, a essa geração de escritores dá-se o nome de 3ª geração modernista. Esse início da segunda metade do século 20 tem um momento cultural muito rico, pois as produções literárias, marcadas por todas essas novidades, diversificavam-se; acabava o predomínio da poesia da 1ª geração ou da prosa (2ª geração). Gêneros literários convivem, são feitos experimentos temáticos e linguísticos, e muitos dos textos escritos para os jornais (as crônicas) começam a crescer e ganhar status de literatura.


Excelente momento esse, pois ao mesmo tempo em que a prosa (romance, conto) buscava caminhos para prosseguir, renovando brilhantemente as técnicas de expressão - como fizeram Guimarães Rosa e Clarice Lispector -, a poesia moderna encontrava ainda maior profundidade de temas, de preocupação social e investigação psicológica, com Carlos Drummond de AndradeMurilo MendesCecília MeirelesJoão Cabral de Melo NetoVinicius de Moraes e outros.

Aliás, a poesia fez até mais crítica social do que a prosa durante o período entre 1945 e 1965. Veja, por exemplo, um trecho de "Carta a Stalingrado", em que Carlos Drummond de Andrade registra a dor pela guerra e a morte:


Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
Outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
E o hálito selvagem da liberdade
Dilata os seus peitos, [...]

(A rosa do povo, 1945)

Ou leia um trecho de seu poema posterior, "A bomba" (a bomba de Hiroshima), em que a própria palavra bomba - como ênfase na devastação da terra e das vidas - é repetida mais de 50 vezes:


A bomba
a bomaé uma flor de pânico apavorando
os floricultores os floricultores
[...]
A bomba saboreia a morte com marshmallow
[...]
A bomba
não iiadnão admite que ninguém se dê
não iiadao luxo de morrer de câncer.
[...]
A bomba
não iiadÉ câncer.

(Lição de coisas, 1962)

Vinicius de Moraes, mesmo depois do fim da guerra, também se deteve no sofrimento mundial, mergulhando na imagem da "Bomba de Hiroxima". Esse poema (na verdade, uma letra de canção), todos nós conhecemos bem, musicado na voz de Ney Matogrosso:


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima [...]

(1962)

Muitos poetas fazem uso insistente da metalinguagem, que se manifesta junto com a preocupação social e política: para que serve a poesia, para falar de sentimentos ou do mundo exterior? A poesia é ou não a arte da palavra? No lindo "O poema", João Cabral de Melo Neto diz:


A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo. 

Que monstros existem

Nadando no poço
Negro e fecundo?
Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo

Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?

[...]

(O engenheiro, 1943-1945)

E depois? O que vem?


São tantos os escritores importantes de 1945 em diante que, para cada um deles devemos dar atenção particular. Unidos pela época (guerra fria, bomba atômica, lutas raciais, EUA, (capitalismo), embora diferentes entre si, trouxeram à literatura brasileira da segunda metade do século 20 o intimismo, a visão crítica política, reflexões sobre a poesia e o mundo regional.


Muitos historiadores dizem que o mundo tal qual a história o conhecia deixou de existir a partir da década de 1950. Televisão, liberação feminina, eletrodomésticos novos, telecomunicações muito rápidas, urbanização maciça... Todo esse novo mundo estará vinculado à nova cultura de massa, não com a cultura letrada nem com a cultura popular.

Mas o que vai acontecer com a literatura? Tudo e nada ao mesmo tempo. Dizem que esse é o mundo pós-moderno. Mas essa já é outra história... E os escritores no Brasil participam dela. Enquanto isso, "repare" num trecho de Cecília Meireles, a poeta dessa geração que, já em 1938, era premiada pela Academia Brasileira de Letras:


Serenata

Repara na canção tardia
Que timidamente se eleva,
Num arrulho de fonte fria.

O orvalho trem sobre a treva
E o sonho da noite procura
A voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia
Que oferece a um mundo desfeito
Sua flor de melancolia.
[...]

(Viagem, 1939)
Márcia Lígia Guidin 
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/portugues/modernismo-romance-30.jhtm
http://www.brasilescola.com

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