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sábado, 9 de junho de 2012

ALITERAÇÃO, ASSONÂNCIA E PARONOMÁSIA




 ALITERAÇÃO (Latim, alliteratio). Contrariamente a etimologia da palavra:sequência de letras semelhantes; a aliteração realiza-se por meio de sons semelhantes, não de letras. De modo que a aliteração consiste na repetição de consoantes ou de sílabas - especialmente as sílabas tônicas - em duas (ou mais) palavras, dentro do mesmo verso, estrofe, ou numa frase. Geralmente, a repetição dos sons consonantais é feita no início e no interior de palavras, ou, então, em sílabas iniciais:
  Chegamos de uma terra feia, fria, fétida, fútil.
  "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque)
  "Auriverde pendão de minha terraque a brisa do Brasil beija ebalança." (Castro Alves)
Quando há repetição, em sequência, de determinado som no "final de palavras", tem-se, o fenômeno do eco; este pode ser trabalhado no interior de uma frase ou verso; funcionando, qual uma autêntica rima:
Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse...
O Sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos. (Eugênio de Castro)
Geralmente, os poetas utilizam a aliteração para sugerir ruídos da natureza. Neste caso, a aliteração recebe ou recebia o nome de harmonia imitativa:
Foguetes, bombas, chuvinhas, / chios, chuveiros, chiando,
Chiando, chovendo, chuvas de fogo! / Chá-Bum! (Jorge de Lima)
Levando em conta esse exemplo, não seria sem razão confundir a aliteração com a onomatopeia. Por outro lado, a onomatopeia difere da aliteração na medida em que esta sugere um som e a onomatopeia imita.
Segundo Manuel Bandeira, o fragmento de Violões que Choram (Cruz e Souza), é o mais longo exemplo de aliteração da Língua Portuguesa:
Vozes veladas veludosas vozes,
Volúpia dos vilões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
A repetição dos [vês] tem o objetivo de sugerir o sussurro do vento.
ASSONÂNCIA (do castelhano asonância = acordo de sons) é a repetição de sons vocálicos, em sílabas tônicas de palavras distintas ou na mesma frase para obter certos efeitos de estilo:
É um pássaro, é uma rosa,
É o mar que me acorda? (Eugênio de Andrade)
Frequentemente, a assonância tem um efeito de rima quando é usada para fazer corresponder vogais em versos finais, como rosa e acorda, no exemplo acima. Neste caso, a assonância confunde-se com a rima vocálica ou toante, que põe em paralelo, duas palavras com a mesma vogal tônica. Como as vogais são acusticamente sons musicais a assonância funciona como complemento melódico do verso. Ao contrário da aliteração cuja repetição das consoantes sugere ruídos da natureza.
A assonância pode ser combinada com a aliteração, veja:
  Na messe, que enlourece, estremece a quermesse.
Neste verso de Eugênio de Castro temos a assonância do “e” e a aliteração do “s”.
PARANOMÁSIA é a figura de som que consiste na aproximação de palavras semelhantes pelos sons, mas de sentidos diferentes, ou seja, é o emprego de palavras parônimas. Observe:
  Cada leitão em seu leito / Cada paixão com seu jeito.
  Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora, ouve aquele tempo!) (Ribeiro Couto)
Os termos houve (verbo haver) e ouve (verbo ouvir) coincidem do ponto de vista sonoro, embora tenham grafias e significados diferentes. A coincidência sonora cria uma tensão semântica na poesia: ela dá novas significações à relação dos tempos presente e passado.
por Ricardo Sérgio

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