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quinta-feira, 24 de junho de 2010


Conclusões de Aninha



Estavam ali parados. Marido e mulher.

Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça

tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,

e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar

novo rancho e comprar suas pobrezinhas.


O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,

entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,

se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar

E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar

e a mulher participa sem ajudar.

Da mesma forma aquela sentença:

"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."

Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,

o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso

e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, Leitor?

Antes que tudo isso se fizesse

o desvalido não morreria de fome?

Conclusão:

Na prática, a teoria é outra.

Cora Coralina


Texto extraído do livro "Vintém de cobre - Meias confissões de Aninha", Global Editora — São Paulo, 2001, pág. 174.

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