Quando Lúcia Paláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lúcia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lúcia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lúcia, e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com os olhos na infância.
Lúcia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é ela.
Eduardo Galeano. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&M, 2010. p.20
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