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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fita Verde no Cabelo


 
Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma menininha, a que por enquanto. Aquela um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo.

Sua mãe mandara-a com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continuava doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar franboesa.

Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores que por lá lenhavam, mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então, ela mesma era quem se dizia: “Vou à vovó com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou.” A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente vê que não são.

E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra, também vindo-lhe correndo em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebéinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha sobejamente. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela toque, toque, bateu:

- Quem é?

- Sou eu... – Fita- Verde descansou a voz – Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou.

Vai, a avó, difícil disse:

- Puxa i ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe.

Fita-Verde assim fez, e entrou e olhou.

A avó estava na cama rebuçada e só. Devia, para falar agagado e fraco e rouco assim, de ter apanhado um defluxo. Dizendo:

- Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo.

Mas agora Fita-Verde se assustava além de entristecer-se de ver que perdera sua grande fita verde no cabelo atada, e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:

- Vovozinha, que braços tão magros os seus, e que mãos tão tremenstes!

- É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta... – a avó murmurou.

- Vovozinha, mas que lábios tão arrocheados!

- É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta...- a avó suspirou.

- Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado e pálido?

- É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha... – avó ainda gemeu.

Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez...

Gritou:- Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!

Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

(ROSA, Guimarães in Fita Verde no Cabelo)

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