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sábado, 27 de junho de 2009

Prove

Quando nós falamos sobre língua, percebemos a sua importância, não apenas como meio de comunicação, mas patrimônio mesmo. Um Legado social deixado pelos aventureiros das palavras. Sujeitos que nos deixaram textos impregnados de paixão, opiniões, resistências...
Homens e mulheres que nos convidam para habitarmos em seu mundo, por algum tempo. Talvez acreditem que ao sairmos de lá, possamos ser melhores.
Uma aluna do nono ano, ao ler um conto de Machado, protestou em alta voz:
- Professora esse conto é mais velho de que a siribina!
Confesso! Não sei o significado da palavra siribina. Mas esse protesto... Levou-me ao capítulo XVII Os vermes de Dom Casmurro. Leia-o.
"“Ele fere e cura!” Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.
– Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.
Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.
Parece Ironia, mas há pessoas que passam pela vida sem distinguir o bom do ruim. Repetem falares de outros.
Queridos, a leitura nos faz crescer, engrandecer. Lembra do processo de formação de palavras? Engrandecer é parassíntese. Você não separa essa palavra. A leitura traz esse acréscimo simultâneo mesmo. As impressões ficam, não nos podem ser tiradas.
Leia mais. Prove Machado, prove Flaubert, prove Graciliano, Prove Dostoiévski, prove Cecília, prove Manuel, prove Drummond, prove! É preciso saber o sabor de uma boa leitura.
Recorde-se, daquele tempo, em que sua mãe te fazia experimentar comidas desconhecidas, novas e velhas. Que delícias!
Ler é se permitir momentos singulares. Prove! Não traga para a leitura conceitos de outros. Crie o seu e, depois, divida-o conosco.

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